sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Rouca Manhã




Rouca manhã

Á Tom Waits

A manhã cuspiu seu gelado vento
nos ressecados e trêmulos lábios,
ainda vermelhos do fugidio batom
que desapareceu aflito na noite
entre fumaças e luzes.

A voz que coreografava confusa
a crescente melancolia da noite vazia,
sacudia feroz a áspera garganta
despejando confusa e desesperada
a sutil e obscura poesia da madrugada
entre os corpos e seus passos
descompassados, desritmados,desequilibrados...
rodopiava, urrava e desabava
entre estalar de dedos,
um piano caindo aos pedaços
e um acordeom que soluça
a solidão entre as mesas vazias.
A rouquidão espessa, infinita e cortante
rasgou a úmida noite numa única nota...

Agora todas elas desabam confusas
entre sórdidos becos, saltos quebrados
cães assustados, vestidos rasgados,
bares fechados, caminhos esquecidos...
O peito sôfrego avança murmurante
pelas esquinas sujas e vazias.
A língua continua rompendo os lábios,
o sussurro eleva-se em notas assustadoras
misturando-se á sujeira das ruas.
O terno amassado e a bota velha
avançam pela manhã
carregando o trôpego corpo
rumo a qualquer lugar
desse imenso cabaré.

Ninil-Zé

Nenhum comentário:

Postar um comentário