terça-feira, 21 de agosto de 2012

Autorretrato







Autorretrato

Ofereça um recuo...consideravelmente distante
na obtenção real dessa imagem destoante
daquilo que se apresenta em linguagem
filtrada na envergadura usual desse ilusório
condicionamento revestido em tépido amontoar
de palavras na docilidade palatável do verso.
A rusticidade capturada pelos afoitos olhos
foge à musicalidade crescente e enganadora
derramada pela página em lágrimas fabricadas.
Talvez a paralaxe esconda algum ponto de interesse
além desse mero desconforto de formas irregulares
estruturadas em desacordo com o ritmo ao redor.
Talvez! Talvez!! Talvez!!!
Talvez os olhos embotados na contumaz saciedade
dissolvam-se apenas na superficialidade rústica e atroz
desse objeto fora de foco da perspectiva usual
que estabelece na imagem a totalidade reduzida
na instantaneidade oferecida pela superfície.







quinta-feira, 24 de maio de 2012

Rugas







Rugas


Pelos na pele.

Insubmissos!

Costurando

vincos infindos.

Contínuas rugas

na silenciosa

rusga pelo tempo

suprimido,

abrindo cavidades

ruidosas no peito.

Múltiplas crateras

na superficialidade

falada na face.

Silêncio da epiderme

acumulando sussurros

do sopro do tempo.

Tempo gritando

à flor da pele.






sábado, 18 de fevereiro de 2012

Riso no rio do tempo

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                                                                              Foto: Izabel Marinho


Riso no rio do tempo                                             




                                                        À Izabel Marinho

Tempo contrariando a quebra das esquinas
observando o ido na circularidade da construção
enroscando a afoita surpresa do engatinhar
ao contínuo tropeçar dos passos cansados.
Acúmulo desenfreado de experiências
desperdiçadas no montante de necessidades
postas em fabricadas e postiças substituições
invalidando a enumeração serena das rugas.
Tempo reanimando o aconchego do mergulho
inundando os poros de disponibilidade ao riso
deixando-se escoar ao borbulhar da fonte
vívida no riso brilhante em cada mínima gota
onde o corpo se reconhece em desmesura
desconhecendo a grandiosidade vivente
posta em cada movimento extasiado do ser.
Tempo esquivando da obrigatoriedade fugaz
de afogar-se em águas devidamente elaboradas
condizentes ao fluxo descontínuo do simulacro.
Brotando, fluindo, resistindo...
Tempo construindo-se em memória contínua
descobrindo-se vivo nos vincos da pele
desvendando o viver no riso molhado
flutuando no salto de olhos fechados à água.

                                                                         Foto: Ninil Gonçalves


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segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Vestes Abandonadas




Vestes Abandonadas


À Marcia Moreira



Os cabides abandonados em algum armário

                    - qualquer um –

mensagem comprobatória de novo rumo,

descaracterizando-os como necessários suportes

à renovadora e diária vestimenta invisível.

Deixou os saltos enroscados naquilo que os rebaixa,

no suposto molde da avenida de passos precisos,

seus saltos catapultam-se em pensamentos agora.

A fita métrica emudeceu-se ante a frieza do tecido,

olhos calculando o infinito valor de cada página

tecendo um emaranhado de coletivas idéias.

Contá-las? Apenas aos ouvidos atentos e curiosos.

Veste-se em palavras colhidas diariamente

esparramando-as cuidadosa no percurso alheio

mostrando que ensinar se constrói aprendendo

e a vestimenta se dá pelo avesso da imagem

tecida em sonhos ao redor de si.


domingo, 12 de fevereiro de 2012

Proibido Colar Cartazes

Foto e magnífica frase:?




Proibido colar cartazes

                                                                                                    
                                                             A Mariana Sapienza e Tatiane Araújo


Poupe-me do esforço de gritar quem sou

já que o silêncio se compromete com tal

vociferando mudas notas ensandecidas

no contínuo embevecimento de estar

deslocando-se a cada inédito instante

empreendidos na urgência de respirar

o que os pulmões sutilmente derramam

no fluxo desse rio de incessante renascer.

Poupe-me do esforço de gritar quem sou

sufocado pela asfixiante invisibilidade  

só destituída nos acúmulos de adereços

obrigatórios à sublevação do status

continuamente reelaborado na supressão

de voos libertos de mesmos itinerários.

Poupe-me do esforço de renovar cartazes

de torná-los necessários ao grito sufocado

pelo equivocado ato de calar catarses

disseminado naquilo que não vai além DAQUILO

faltando-lhe um substantivo que evoque

a substância que grita o silêncio do ser.

Poupe-me de excretar incessantemente

A cola que cala necessidades subseqüentes

elaboradas em mecanismos financeiros

distanciando-me da rusticidade do muro

aproximando-me do catártico berro do barro.   





Foto: Ninil Gonçalves



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