domingo, 23 de agosto de 2009

Mercado poético

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Mercado

a Nelson de Oliveira

Horda de navegantes procurando assento,
mesmo que ausente em suporte racional
vociferando em pergaminhos flutuantes
aquilo que vaza incessantemente do peito
esparramando-se entre teclas, telas e chips,
inundando o espaço ausente de sinais vitais
esvaziando o acúmulo daquilo que grita
ante o anestesiado e indiferente tímpano
solícito a uma virtualidade programada
sob o comando de um estrondoso uivo
ampliado no valor do signo dos dígitos,
sufocando o eco do belo vibrar de páginas
silenciando o papel que conhece as mãos,
mas impulsionando a necessidade do verbo
em atirar-se à fugaz invisibilidade do vento
que não poupa canto algum onde se deitar
adaptando-se aos formatos que se erguem
na híbrida renovação contínua da linguagem,
evitando a gratuidade do apenas publicar
como programado mergulho no mero reflexo,
ampliando a circularidade do diálogo
na instantânea desconstrução do espaço.

Ninil





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Despertar

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Despertar

A eternidade rodopiava serena entre os móveis.
A noite não dormida se dissolvia na claridade
jorrada em veemência pela janela aberta.
O dia pousava os lânguidos pés no imenso trilho
que rasgava um novo perfil no horizonte.
A poeira mal acabara de assentar serenamente
na imensa teia de confusões pousadas no ser.
Alguns insetos escorregavam pelo invisível
pousando o emaranhado de aflições acumuladas,
buscando futuros fétidos instantes sobre a carcaça
impulsionada pela irrefreável lógica vertical,
lança-se ao solo ansiosa em novas caminhadas
mas a insistência de insustentáveis tormentas
esmagam os sonhos ainda não sonhados
desfigurando o esboço do dia ainda por começar.

Ninil




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sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Sopro

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Sopro

a Maceo Parker

Ar que desconhece o espaço definido
mergulhando extasiado nos alvéolos
esgueirando-se em rodopios sutis
excitando os infrenes tubérculos
exímios dançarinos impulsionados
pelo invisível e poderoso alimento
fugindo pela verticalidade infinita
dessa verdade quente e desmedida
que rasga em sutileza a garganta
enlouquecida ventania desabando
pelo vazio gelado do mágico tubo
fôlego adentrando tranquilamente
deslizando pelo silêncio metálico
aquecendo por inteiro esse corpo
em colorida e inesgotável abstração
lançada em brasa flamejante do peito
desabando na quentura do sopro
possibilitando a intensidade do grito
desvendando o trajeto que se ilumina
transformando em notas ferventes
a invisibilidade aconchegando-se
na plenitude conquistada no som
lançada sobre o frenesi dos corpos
inaugurando espasmos contínuos
arremessando-os por todos os cantos
absorvidos no redivivo instante
erguido no rodopio infinito do sopro.

Ninil



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quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Memória


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Lacuna

à Dª Maria e suas lembranças construídas em nós


Lacuna arrastando-se junto ao ser
engolindo toda solidez construída
sob as manchas e rugas edificadas
decepando o passado dos passos
que se constroem sob o vacilante
inédito instante que se apagará
no breve sussurro de um tempo
que foge ao abraço da memória
desconstruindo todas imagens
dissolvidas no imenso espaço
estreitado-se em atroz velocidade
na mínima faísca reminiscente
que incendeia a totalidade do ser
no caule que nunca se perderá
na insistência do vazio devorador
impossibilitado de se apoderar
daquilo que vaza pelos poros
encharcando cada fragmento
onde todo o tempo esparrama-se
na anti-memória que se configura
como afetividade reconstruída
em qualquer instante vindouro.

Ninil




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domingo, 9 de agosto de 2009

Direção

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Direção

a Luiz Bras

O invólucro irregular que contorna o caminho
estremeceu ante a invasão de necessárias palavras
desatinando os anestesiados e calculados passos
perdendo o rumo fixado pelo tempo domesticado
assinalando as novas poças a serem pisadas
reativando a necessidade dorida dos calos
esquecendo a enumeração das pedras
mas também trouxe a suavidade da lama sob os pés
esculpindo as pegadas na irrefutável inconstância
do corpo que cambaleia ao rumor do vento
absorvendo aquilo que brota na invisibilidade
dessa verdade que grita com força descomunal
o sussurro emanado sob cada passo substituído
na irregularidade necessária da construção
presenteada por palavras misturadas à terra
onde o tropeço é a própria satisfação
acompanhada por tranqüilas e vigorosas pegadas
indicando sob o signo de espontâneo auxilio
que o caminho se ergue através da caminhada
e a direção é o reflexo de contínuas absorções.

Ninil





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quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Breve

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Breve

Véspera da espera desesperada do fim
amontoando-se em mínimo instante
imperceptível à corpórea racionalização
que se abstrai rumo á concretização
do deslocamento que nunca veremos.
Onde está a velhice que se via ao longe
quando os pequenos membros rumavam
entre risos e passos desenfreados?
Onde está a infância que ontem mesmo
estranhava dentaduras e múltiplas rugas
socorridas por bengalas e bancos?
O rápido movimento dos olhos
deixou o tempo escorrer imperceptível
ante a verdade que se lançava e retrocedia
diante da recusa em construir absorto olhar,
despovoando o peito de imprescindíveis instantes,
abarrotando-o de acúmulos desnecessários
de datas e inúmeros números tranqüilizantes
soterrando o contínuo fluxo do tempo
em esperas ou satisfações despercebidas.
Os olhos tentam buscar a estranha dimensão
da imensa linha que se perde no mínimo espaço
de um suspiro.

Ninil





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terça-feira, 4 de agosto de 2009

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Moz

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Moz

Bolso não cabe em si invadido de flores,
desconstruindo a mera função depositária
inaugurando a cachoeira de inúmeras cores.
Bolso instaurando o estranho suporte
ao amontoado de pétalas sacolejantes
configurando ao inusitado e dissonante balé
a sutileza de espontâneos movimentos
coreografados sob a força do verbo
dialogando com a estranha dança
uma nova melodia emanada da solidão
absorvido pela contínua chuva de pétalas
forrando com o veludo infinito da voz
o já desgastado e coerente caminho
promovendo novas e necessárias trilhas
abrindo espaço aos passos acostumados
ao solo untado em tranqüilidade e silêncio.
Ironia e angústia engrossando o caldo
de desespero vestido em dor e odor
que emana de páginas envelhecidas
servindo-se da atemporalidade da palavra
alimentando esse tresloucado corpo
absorvido em giros ao redor de si
desmoronando no aconchego do verdo
erguendo-se na descontrolada pulsão de vida
desaranjando-se no fluxo melódico do devir
lançando-se rumo ao nada que absorve
essa totalidade embebida até o cerne
daquilo que rasga e costura o ser em si
alinhavado ao avesso comprobatório
do imperceptível alarido das flores
gritando seus perfumes a si mesmas
ante a poética instaurada em movimento e voz.

Ninil




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sábado, 1 de agosto de 2009

Identidade

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Identidade

Apenas um pouco do que já fui
reside na inconstância da imagem
desse corpo fustigado continuamente
pelo vento da necessária mudança,
sobrepondo lentamente as páginas,
misturando-se ao que não se visualiza,
adaptando-se ao que se mostra novo,
não como mera folha ao contínuo sopro,
mas atendo-se à força da profunda raiz,
resistindo à outra camada de concreto,
buscando novos rumos entre os dédalos
de múltiplas escolhas e infindáveis fugas,
instituindo novas identidades necessárias
a partir da primordial necessidade do ser,
única em cada um, uma em cada único,
extirpando vestimentas usuais necessárias
trazidas pelo fabricado vento homogêneo
da efêmera substituição necessária exigida
como real princípio básico existencial
da mera função de visibilidade ao outro.

Ninil





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The _ lo _ ni _ ou _ s M _ on_ k

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The _ lo_ ni_ ou s M _ on k

Seria o final da nota ou falto_
_u pauta?
Ou en_ tão a pauta esta_ va lá,
mas a nota que_ ria se pro_ lon
_gar para alé_ m do ó_ bvio,
Constru_ indo um to tal desman_
_che de con _ceitos,
abra_ çando a disf_ orme mate_
_mática do ser que se des_
_loca no sub_ lime lim _ite
entre a mer_ a ex_ perim_ enta_
_ ção e a cons_ cien te ab_ sor _ção
daqui_ lo que va_ gueia
por pro fundida_ des nun_ ca
an_ tes merg_ ulhadas,
con_ vi _dando os ouvi _dos
a se per_ derem nos des_
cami _nhos que a vi _da dá
ou le_va.

NInil




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