.
Vazio *
Às crianças
de Gaza
A
lágrima é usada apenas para lavar os olhos
do
sangue e da fuligem acumulados em excesso
sobre
os delicados e impacientes cílios.
A
dor ultrapassou o sentido desse líquido.
O
pequeno e esvoaçante corpo,
acostumado
em ligeiras fugas
sobre os contínuos escombros
nas
improvisadas brincadeiras
sucumbe
ao peso esmagador
do
vazio infindável e nebuloso
instaurado
sob a necessidade incessante
de
se colocar perante o que se chama de inverso,
numa ilusória preeminência.
Subtraindo
a excelência da descoberta
da
grandiosidade que brota no outro.
O
amontoado de lixo político avança,
sobrepondo
o real valor humano.
Desfigurando
e arrancando das faces
a descompromissada gratuidade do riso
e
a sutileza da mudança brotando na íris.
Cobram
um valor demasiado alto
de
existências exauridas de si,
constituídas
na mecanicidade de dogmas
e
valores encarceradores.
O
rápido esvair de vida do pequeno corpo
enroscado
sob um amontoado de aço e concreto
não
é empecilho ao desenfreado avanço
da
estrondosa gargalhada do poder.
Meros
pontos de calor esfriando
sob
o sol escaldante.
Meros
invólucros de almas,
esvaziando-se
de si.
.
* Absorções (2011)
Fotos: Mohammed Salem (2014)