segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Barulho








Barulho


 À Sandra Ferraz Walsh



Vá meu amigo, faça barulho!

Grite a todos a palavra silenciosa

que guardavas atônito e esfuziante.

Distribua a melodia ruidosa e sutil

circulante desenfreada pelo peito

misturando à regência contínua do vento

envolvendo os corpos com sua sonoridade.

Não um barulho que surrupie apenas olhares

comprobatórios do instante que se faz vida.

Construa no silêncio dos passos o seu barulho,

aquele que se derrama no ouvido do peito

posto em taciturna audição a receber sortilégios

fabricados na constância de insubmissos voos

de pousos cada vez mais rareados.

Vá meu amigo, faça barulho!

Bata palmas, panelas, tambores e dentes!

Mesmo que os ouvidos se fechem ante o som

e sua reverberação alcance somente o derredor,

grite a música que te move diariamente,

construída no silêncio que todos conhecem

conhecida no silêncio que somos construídos.


Ninil





Fotos: Ninil

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Ei-la!





Ei-la!



A poesia se mostra no invisível ato da visão

Esconde-se no visível desacato de ser

Mostra-se na invisibilidade ignorada do ver

Opõe-se a favor do que não É

Sendo aquilo que bem entende

Regra o dilema que instaura a dúvida

Duvida da vida que duvida da vida

Irrompe do grito calado ensurdecedor

Derruba-se nos prantos escondidos

Esculpe-se em gargalhadas infinitas

Contorce-se no afago da brisa

Deliciando-se ao açoite do furacão

Esconde-se na sutileza da pétala

Mostra-se encharcando o espinho

Agiganta-se em grão mínino no universo

Esparrama-se no prato em alimento diário

Espreme-se sob solas apressadas

Descansa em umidades palmilhadas

Sobe velozmente ao inatingível

Desce suavemente ao aconchego do abismo

Caminha a passos largos o mínimo

Volteia-se em lentidão o desmedido ir

Dorme onde cama alguma se deita

Acorda em qualquer coisa que a deixe:

Despertar-se!

Instaura-se definitivamente no verbo ser

Qualquer coisa que seja algo de se ver.

Ou não!


Ninil



Fotos: Ninil

domingo, 23 de outubro de 2011

Editora ARTE-LIVROS

Olá Amigos.
Acabei de publicar meu primeiro livro "Absorções". Caso queiram adquirí-lo, segue aí o endereço da editora ARTE-LIVROS .http://www.artelivroseditora.com.br/ . Valeu!

sábado, 15 de outubro de 2011

Leon Cakoff 1948-2011






Leon Cakoff 1948-2011


Só temos que agradecer a Leon Cakoff por toda sua dedicação ao cinema mais ligado à reflexão e à arte. Seu trabalho representa todo um movimento de resistência e luta ao possibilitar a contemplação de obras nas quais a reflexão e o caráter artístico dão o tom da maioria das obras, dispensando o apelo meramente comercial de mero entretenimento, possibilitando também a compreensão de outras culturas que pouco são mostradas. A “Mostra” é mais que um acontecimento especial para os cinéfilos, pois traz na diversidade de origens dos filmes, a riqueza cultural que não temos a oportunidade de vivenciar. A Mostra também esconde algumas pérolas que talvez nunca mais teremos a oportunidade de ver, como já aconteceu comigo. Ela é parte imprescindível no meu calendário de eventos importantes da cidade, já me proporcionou momentos muito especiais e trouxe muita experiência positiva em relação à compreensão de outras culturas e de um cinema feito com outras prioridades. Valeu Cakoff!




sábado, 8 de outubro de 2011

"O Homem-relógio" de Cris Dias

Hoje o poema vem de outra voz, de uma poetisa que me presenteou com algo que ela sabe fazer muito bem, transformar a linguagem escrita em elemento palpável repleto de vida. Cris Dias é o nome dessa poetisa que some e ás vezes aparece só pra iluminar tudo. Obrigado Cris!


O Homem-relógio


                                                   para Ninil



Porque o tempo deixou de girar

para se tornar digital,

o relojoeiro não quis mais saber das horas.

Pensava consigo:

de que adianta consertar máquinas,

que dão números inteiros,

com aqueles zeros

imitando a letra O cortada ao meio?

Como perguntar para o cliente

quando o relógio deixou de trabalhar,

se nunca houve nele

um coração?

Apenas o som oco,

de um número

transformado em outro?

Nesse vaivém sem sentido,

o dois se inverte em cinco,

o três se completa no oito,

e assim vão-se os segundos,

os minutos e os dias.

Bom mesmo era ver os ponteiros

dando voltas ao tempo

em espiral,

nunca o mesmo e sempre igual.

Voltou-se para a literatura.

Encontrou nas palavras

o concerto das horas

que o levava para frente

e para trás nas histórias.

A poesia, ah poderosa poesia!

Esta suprimia o tempo.

Resolveu, então, criar outro relógio

com as 23 letras do alfabeto.

Descartou as consoantes W, Y e K

que nunca tiveram lugar na sua vida.

Fez da letra A a soberana

ocupando a posição 12 e 24.

Zero, jamais.

E assim desenhou o seu

próprio relógio de letras:

B e N, C e O, D e P, E e Q,

F e R, G e S, H e T, I e U,

J e V, L e X, M e Z.

Estava realizado.

Era sua máquina,

eterna,

de fazer poemas.



Cris Dias
Em algum dia de 2010

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Lançamento "Absorções" 19/10 no Memorial da América Latina

Convido todos os amigos para o lançamento do meu primeiro livro "Absorções". O evento acontecerá no Memorial da América Latina e será um lançamento coletivo promovido pela editora ARTE-LIVROS. São 14 ótimos autores e mais esse iniciante que se sente "um mero mínimo coadjuvante" no meio dessas pessoas. O medo é enorme, mas a felicidade é maior.