Barulho
À Sandra Ferraz Walsh
Vá meu amigo, faça barulho!
Grite a todos a palavra silenciosa
que guardavas atônito e esfuziante.
Distribua a melodia ruidosa e sutil
circulante desenfreada pelo peito
misturando à regência contínua do vento
envolvendo os corpos com sua sonoridade.
Não um barulho que surrupie apenas olhares
comprobatórios do instante que se faz vida.
Construa no silêncio dos passos o seu barulho,
aquele que se derrama no ouvido do peito
posto em taciturna audição a receber sortilégios
fabricados na constância de insubmissos voos
de pousos cada vez mais rareados.
Vá meu amigo, faça barulho!
Bata palmas, panelas, tambores e dentes!
Mesmo que os ouvidos se fechem ante o som
e sua reverberação alcance somente o derredor,
grite a música que te move diariamente,
construída no silêncio que todos conhecem
conhecida no silêncio que somos construídos.
Ninil