sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Necessidade

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Necessidade

A palavra presa ao branco do papel,
vibra da ponta suspensa da pena
ao abismo da pauta horizontal.
Suplica por outras palavras
a preencher o vazio infinito
que a comprime no canto da página
dando-lhe um sentido real.
O poeta é cúmplice da dor,
insiste na angustiante tarefa
de não costurar um ponto desigual.

A palavra rebelando-se, grita:
“Ao menos uma vírgula seu idiota
ou quem sabe até um ponto final.
Então me rabisque ou apague por completo,
mas acabe com essa tortura,
com esse capricho verbal!
Tens a alma repleta de lama,
mas insiste sempre nesta busca
de transformar sórdidos sentimentos
em algo cristalino como sal”.

A escrita surge emanando sofrimento,
Intranqüila e sangrando o papel.
O peito alivia-se um tanto,
retirando a alma do insistente lodaçal.
as palavras roubam ansiosas
o sono de uma noite inteira,
mas isso é mínimo, habitual.
Melhor ainda
é quando usurpam todo um dia
vagando enlouquecidas
desde o respirar
até o alívio intestinal.
Nini-Zé

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