quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Oitavo andar




Oitavo andar

A ausência de sol durante toda a semana, transferiu para o olhar, uma tonalidade cinza, levando o vago dos olhos a pousar melancólico sobre os telhados, as árvores e as ruas molhadas. Apenas os cães, inabaláveis em suas alegrias, sacolejavam suas úmidas carcaças, entre latidos e coçar de pulgas.
Olhando daqui de cima, uma confusão de pontos negros desliza pela calçada, protegendo as pessoas dessa fina chuva, nem parecem guarda-chuvas, mas estranhos animais esgueirando-se entre outros, buscando espaço no estreito calçamento. A lentidão própria destes dias parece se direcionar a momentos onde qualquer sentido se dissipa ante o desespero que se arrasta, carregando todas as coisas consigo.
Não será a abrangência da visão daqui daqui do alto, que confere ao ser humano a sua real e diminuta estatura, ínfimo ponto que se arrasta?
O sutil balé da garoa, coreografado pelo vento, desenvolve seus movimentos pelo ar, num múltiplo e úmido desenho pontilhado. Qualquer resquício de ânimo ou satisfação se dissipa num derretimento instantâneo, diante dessa imensa e pesada nuvem que se agiganta no peito.
Não se preocupe meu anjo. Não me jogarei hoje...Nem amanhã...nem nunca. Aos poucos estou descobrindo, que assim como o vermelho grita aos olhos o seu valor, o cinza me balbucia nos ouvidos as sutilezas evitáveis dos momentos sombrios. Com elas preencho os espaços vazios do meu invisível travesseiro e assim durmo no tempo.



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