sexta-feira, 28 de novembro de 2008

K

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Vem k.

Vem kafkar comigo,
meu intranqüilo e cálido anjo,
mesmo sabendo que nem mesmo eu,
comigo desejo estar.
Te ofereço meu mundo:
mudo espaço esquálido,
onde transito afoito
entre o crescente desespero
e a imersão no tédio absoluto.
Ofereço-te minha nulidade
como mero objeto descartável
desse mosaico de horrores.
Vem k ficar comigo,
mesmo não sabendo
que desejo é esse que aprisiona,
rouba-nos os instantes
nos tranca sem motivo aparente,
soterra-nos de incontáveis regras
erguidas onde não se cabe nenhuma.
Avancemos pela lógica da estrada
que não leva à lugar algum,
mas possui um fim em si mesma.
Mata-me algo,
no instante em que desconhece em mim
aquilo que os cães têm de sobra.
Vem cá ficar comigo,
meu duplo sentido de mim.
Vem rodopiar serena
nos infindáveis salões
de nosso invisível castelo.
Vem kafkar comigo,
preencher os instantes e os dias
que ficaram incompletos
no vazio da página em branco.
Seremos senhores do nada
na amplidão do mínimo necessário,
Antes que alguém nos varra.
Mediremos o espaço que nos cabe,
através daquilo que de nós vaza,
agrimensores de abstrações.


Ninil-Zé 2008

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