sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Sombra




Sombra

Á Antonin Artaud


O vão infinito da porta
sente-se violentamente invadido
pela sombra monstruosa,
engolindo o mínimo de serenidade
firmemente segura entre os dedos,
conquistada na noite branca
tendo as incansáveis aranhas
como cúmplices totais
do aterrador silêncio,
insaciável engulidor do tempo,
impossibilitando qualquer perspectiva
de construção do pensar.
A sombra invade meu espaço
me traz os restos possíveis
do que a torna feliz.
Trazes além dos restos,
aquilo que te completa
no necessário sadismo.
Tenta curar-me de mim,
nunca perceberá, na sua fúria
que sou a doença e a cura
o veneno e o antídoto,
aquilo que se prontifica
à uma ampla destruição,
iniciando logo em seguida
a mais obsessiva construção.
Obedece às malditas regras
de antigas torturas,
essa assombrosa sombra.
Não percebe que a lucidez é ilusória
sendo o pensamento uma abstração.
Segue as malditas regras
infligindo-me um mundo
que não me cabe mais,
um mundo que não cabe em si
por não perceber-se como tal,
reduzido à um amontoados de atitudes
antecipadamente construídas e elaboradas
para sufocar qualquer outro mundo
onde a abstração nasça e cresça
desça,desobedeça,apareça...
Destruindo qualquer intuito
de ancorar-se na previsível
linearidade do pensamento
pragmático, conformista e estático.
A sombra insiste diariamente
com seus restos de algo.
em breve serão os meus restos
a presentear essa maldita sombra.

Ninil-Zé 2008

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