Da superfície da pele
à cavidade
mais obscura dos ossos,
sinto novamente sacudindo-me
por inteiro
a antiga inquietação.
Adormecida na recusa em acreditar
que do ato
-mesmo erguido do nada-
surgirá silenciosa e paciente
a estrutura do viver,
onde cada fragmento
ousa representar o signo do todo.
Até não muito antes do agora que se mostra,
apenas um mero esboço de atitude
surgia...ofegante,quase imperceptível
dentro de cada fragmento,
onde o marasmo se oferecia
com freqüência como leito
e o torpor arrastava as horas
no mais lânguido caminhar.
O sol que iluminava os passos
flutuantes na displicência,
se desbotou veemente
sob o estrondoso e indiferente calçado.
Até o vento,exímio coreógrafo
abandonou o balé das flores,
arrastando-se pesado,
varrendo o frio concreto
das calçadas vazias,
Desaparecendo ligeiro pelas esquinas.
Hoje,
aquele ruidoso vento
sopra cuidadoso
desprendendo com cuidado,
uma a uma
cada aveludada pétala,
oferecendo-as tranqüilo
aos passantes apressados.
Mesmo a recusa e a indiferença
me contemplam
com instantes de aprendizado.
Irei Vestir os meus dias
de horizontes menos opacos,
pois minhas roupas
estão desbotadas e cinzas.
Não me cabem como antes,
mas não as abandonarei
num canto sombrio e esquecido
como referência à algo distante,
tampouco as tingirei
com cores alegres e brilhantes.
Remendá-las às novas me apraz,
já que o tempo
esse senhor da costura
no passado nos refaz,
alinhavando a exatidão
num ponto desigual.
A antiga inquietação está de volta.
A velha melodia se une a outras
novas e urgentes.
Já que o futuro é uma sombra inatingível,
calço meu passado
e dou-me estes momentos
como presente.
Ninil Gonçalves- 2007
É medíocre a maneira como nos limitamos para olhar o outro, através do seu blog, talvez possamos expandir esse olhar sobre você. Parabéns pela sua maneira peculiar de escrever. Beijos. Carlyne
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