segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Atestado de p(n)obreza

Hoje vi alguém no metrô, com um livro aberto em determinada página que tinha um subtítulo que dizia: "como este livro pode te ajudar a se livrar da pobreza" . Algumas pessoas odeiam ser pobres, não pelo fato disso as privar de algumas coisas necessárias, mas pelo fato de que elas não podem ter a mesma mansão do figurão da revista "caras" ou aquele automóvel que te dá notoriedade para transitar entre os "importantes" e se sentir como eles. A sociedade consumista criou meios que determinam como proceder e o que adquirir para que se possa fazer parte dela e a forma como isso é cobrado é terrível e torna-se uma briga constante consigo mesmo e com os outros (sem falar dos mecanismos de uma vida prática, que são itens obrigatórios do homem moderno). A pessoa não enjoa do carro novo que ela comprou no ano passado, ela precisa mostrar aos outros, que ela pode ter um melhor do que o do vizinho ou do colega de trabalho. Isso se torna uma bola de neve até que a pessoa não consegue mais saber quais são realmente os valores que formam um ser humano. Os valores são regidos pelo mercado de consumo. Espiritualidade é ir à missa ou ao culto no domingo com sua roupa de grife e valores são aqueles aplicados na bolsa.
Estive num bairro "nobre" de São Paulo para fazer uma visita à alguém que estava muito doente numa clínica. Fiquei abismado com aqueles muros altíssimos e portões enormes e nas ruas não se via viva alma, parecia um cemitério. As pessoas estavam nos carros caríssimos ou trancadas com suas tvs de muitas polegadas e cheias de muitos canais pagos assistindo a mesma novela das oito que as pessoas de São Miguel Paulista assistem, mas em São Miguel, as pessoas soltam pipas e foda-se o carro que vem vindo, as mulheres colocam cadeiras nas calçadas e riem "a plenos pulmões", um riso que estilhaça o ar. Meninas "ainda" brincam de amarelinha e como não podia faltar, alguns garotos imploram à dona Maria que devolva a bola que caiu no quintal. Eu não anseio ficar rico porra nenhuma, nem quero uma merda de carro que todo mundo babe em cima.
Estou respirando e isso já é um grande lucro e junto com a respiração vem um tanto de coisa boa (se quisermos é claro).

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