segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Vazio

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Às crianças de Gaza

Vazio

A lágrima é usada apenas para lavar os olhos
do sangue e da fuligem acumulados em excesso
sobre os delicados e impacientes cílios.
A dor ultrapassou o sentido desse líquido.
O pequeno e esvoaçante corpo,
acostumado em ligeiras fugas
sobre os contínuos escombros
nas improvisadas brincadeiras,
sucumbe ao peso esmagador
do vazio infindável e nebuloso
instaurado sob a necessidade incessante
de se colocar perante o que se chama de inverso,
numa ilusória preeminência.
Subtraindo a excelência da descoberta
da grandiosidade que brota no outro.
O amontoado de lixo político avança,
sobrepondo o real valor humano.
Desfigurando e arrancando das faces
a descompromissada gratuidade do riso
e a sutileza da mudança brotando na íris.
Cobram um valor demasiado alto
de existências exauridas de si,
constituídas na mecanicidade de dogmas
e valores encarceradores.
O rápido esvair de vida do pequeno corpo
enroscado sob um amontoado de aço e concreto,
não é empecilho ao desenfreado avanço
da estrondosa gargalhada do poder.
Meros pontos de calor esfriando
sob o sol escaldante.
Meros invólucros de almas,
esvaziando-se de si.





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