segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Madeira

.




Madeira

Nasceu entre a fé e pó da madeira
cuspido diariamente pelo afiado serrote,
inundando as narinas e tudo ao redor
numa fina e amarga névoa.
Os pés deslizaram pelo árido solo
com seus iguais irmãos de brincadeiras
e descobertas de um mundo estranho,
inundado de sangue e regras intransponíveis.
Ousou ser ele mesmo e buscou seu rumo,
contrário ao ritmo imposto como correto
aos sofridos pés,
retilíneos e obedientes na dura caminhada.
Rasgou o peito e encharcou-o de tudo aquilo
que criava a totalidade de toda podridão.
Saboreou o constante e despercebido mofo
que enroscava na garganta dos mendigos.
Salvou seu amor sob uma chuva de pedras,
amparando-a em sexo e compaixão verdadeira,
amando-a na amplitude de mulher.
Não recusou a angústia nem as dores
transmutando-as em essência de crescimento
nestes desertos que o mundo ás vezes nos joga,
onde aprendemos desesperadamente ás cegas,
enfrentar e conviver com nossos demônios .
Entre ensurdecedores gritos e raivosos pontapés,
expulsou os valores materiais como provável avaliador
da infinita riqueza produzida pela alma.
Descobriu o equilíbrio entre todos os seres
distribuindo o todo em partes iguais.
Conheceu o pérfida inclinação humana,
rendendo-se à sentimentos traiçoeiros.
Postou-se de igual valor ante à arrogância
vestida de poder e do ofuscante brilho da vaidade,
empalidecendo a beleza das cores reais.
Descobriu-se no abundante rastro vermelho
que refletia o único caminho possível.
O carpinteiro de palavras sucumbiu silencioso,
diante dos cravos que varavam sua carne,
sentindo o mesmo cheiro de madeira
que invadiam suas narinas na infância.

Ninil




Dali

Nenhum comentário:

Postar um comentário