sábado, 16 de janeiro de 2010

A Miséria do Haiti

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A Miséria do Haiti

Poderia ser uma grande ingenuidade ou uma provável ignorância, relacionar a catástrofe ocorrida no Haiti, com questões políticas e sociais, já que foi devido a um fenômeno natural que toda essa desgraça se deu. Alguns fatores construídos num passado de colonização e exploração podem ter ajudado a chegar a esse número absurdo de vítimas, pois num país onde oitenta por cento da população vive abaixo da linha da miséria, a construção das casas e barracos são no mínino precárias, até mesmo para se levantar vigas que podem ajudar na estrutura da edificação, evitando que as paredes caiam como uma casa feita de cartas de baralho. Sabemos através de inúmeros fatos históricos, que todos os países que vorazmente colonizavam os “paraísos selvagens” tinham como único intuito, a exploração total, inclusive dos seres que ali habitavam e isso não foi diferente com o Haiti.
Segundo Milton Meltzer, no livro “A História Ilustrada da Escravidão”, no século XVIII “Proporcionalmente a suas dimensões, nenhum país do mundo produzia tanta riqueza quanto o Haiti” (pag. 324) e “A prosperidade que brotava do solo do Haiti graças ao trabalho dos escravos, trouxe novas riquezas para a burguesia francesa...ela (a França) acreditava que suas colônias existiam somente para o lucro da pátria mãe...Os colonos eram obrigados a comprar todos os artigos manufaturados na França.” (pag. 327) “milhões de franceses passaram a viver melhor por causa delas.” (pag. 328).
Não posso deixar de incluir um trecho colhido por Milton Meltzer do livro "The Black Jacobins, Toussaint L’Ouverture and San Domingo Revolution", de C.L.R. James, que apesar de não ser diferente do tratamento dos escravos em qualquer lugar do mundo, choca e revolta. “ Não havia engenhosidade que o medo ou uma imaginação depravada pudesse arquitetar”...”máscaras de lata para impedir que os escravos comessem a cana de açúcar”...Sal, pimenta , cidra, brasas, aloés e cinzas eram derramados nas feridas abertas...Os senhores derramavam cera quente nas mãos e nos ombros dos escravos, cana de açúcar fervente sobre as cabeças, eram queimados vivos, assados em fogo brando, enchidos de pólvora e explodidos, enterravam até o pescoço e lhes cobriam a cabeça com açúcar para que as moscas e formigas pudessem devorar”
As descrições são muitas, mas já é possível ter idéia do que os franceses faziam com os antepassados daqueles que agora estão sob o concreto ou levados de trator para uma vala comum. Os descendentes dos franceses que cometiam todas essas atrocidades não estão em débito algum com o os haitianos devido ao que ocorreu no passado, mas uma das definições para palavra história é: “A ciência que estuda o Homem e sua ação no tempo e no espaço, concomitante à análise de processos e eventos ocorridos no passado”, por isso rever questões do passado é importante para se entender o que acontece agora, não da catátofre natural, mas da miséria do país. Quando toda a riqueza natural de um país é usurpada, tornam-se escassos outros meios de voltar a ser o que era, principalmente para uma ilha.
Talvez o Haiti possa ser considerado um país africano fora da África, pois tudo remete ao continente, da etnia ás questões sociais e o Haiti só fica atrás do Brasil em número de escravos traficados: 864.000. O Haiti conquistou sua independência através da revolução dos escravos e isso custou caro, pois além da fúria de Napoleão, o boicote ao comércio com a ilha foi se expandindo. O líder da revolução dos escravos, Toussaint L’Ouverture foi sequestrado e levado até Napoleão, que o prendeu em uma masmorra e ordenou fosse torturado e morresse de fome e frio. Quando Napoleão tornou-se prisioneiro em Santa Helena, perguntaram sobre o tratamento dado a Toussaint L’Ouvertrure, ele disse: “Como poderia me interessar a morte de um mísero negro.” (Meltzer, pag. 342)
Acredito que ser um país bem sucedido na América Latina já é difícil, isso se torna mais complicado quando se é um país que foi explorado, boicotado, politicamente deteriorado e ainda por cima alvo de catastrofes naturais. Assim como outros países que sofrem todas essas intempéries climáticas e que estão sobre placas tectônicas, o Haiti precisaria se precaver com construções que são próprias para estes lugares, as chamadas construções anti-terremoto e não construir barracos que nem vigas possuem, já existem muitos mecanismos tecnológicos que ajudam a amenizar a destruição causada por tais eventos. Talvez isso fosse possível, já que o Haiti “proporcionalmente a suas dimensões, era o país que mais riqueza produzia no século XVIII” como disse Meltzer, não tivesse suas riquezas usurpadas pelo colonizador parasita, que chega, se instala e suga tudo que for possível.
Este texto não tem a menor pretensão em afirmar ou atestar que a miséria no Haiti se estabeleceu devido ás questões acima citadas, tampouco tal material poderia fornecer uma análise convincente, estando amparada em tão minúscula reflexão, já que se trata de um assunto que muitas vezes ultrapassa as página de um grosso volume e também envolve questões mais complexas que podemos supor. Mas não posso deixar de afirmar que o processo colonizador exploratório e cruel sofrido pelo Haiti, deixou profundas marcas que se prolongaram muito além da tão difícil e sacrificante liberdade.


Ninil




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