quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Café da Tarde (em Porto Príncipe)

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Café da Tarde

Debandou em tresloucada corrida.
De riso em riste e pés displicentes,
o miúdo dinheiro sufocado e úmido
na firmeza ininterrupta dos dedos.
Os pães amassados e endurecidos
se aquecem junto ao resfolegante
pedaço do mundo que se agita
e se avoluma dentro do peito.
A brincadeira fica para depois,
pois à mesa,
amassadas canecas se afogam
no negrume saboroso e quente.

De nada adiantou a tresloucada corrida.

Os dentes do solo rangeram
e os passos confiantes cederam.
A pressa foi estilhaçada abruptamente
pelo ronco irrompido da terra
engolindo os passos descalços
e a quentura do insistente peito.
Os dedos em ininterrupta firmeza
não sentem mais a dureza dos pães.
Na mesa a espera interrompeu-se
na mais longa e inesperada pausa.
Sob a espessa camada de poeira,
o café derramado e os corpos esfriam.

Ninil



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