domingo, 24 de janeiro de 2010

Acorda! A corda...

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Acorda! A corda...

à Sandra A. Bragança (1976-2010)

O silêncio fez-se totalidade no frágil corpo
acostumado aos sacolejos emanados do riso.
Habituado à correnteza furiosa do sangue
irrigando o motor que mal cabia no peito
engrossando tudo aquilo que vinha rarefeito.
O riso que rasgava a quentura da garganta
desabou na imobilidade fria e muda da língua
aprisionado na rígida prisão dos dentes.
A imobilidade abraçou os pequenos pés
acostumados à fúria dos passos infantis
que te cercavam em enlouquecido balé
instalados na absoluta liberdade de movimento
coreografando a contínua anarquia dos seres
que conhecem a essência da marcha do ser.
A cortina desabou ante o constante brilho negro
que reluzia ás opacidades insistentes ao redor.
A lividez do rosto de eterno clown
empalideceu-se na fuga de todas as cores
de todos os horrores, de todos os amores...
O término não teve o ponto final de uma bala
tampouco a exclamação de uma lâmina.
Teve a corda como um abraço sufocante,
talvez tentando acordá-la do contínuo sono
impregnado nessa imensa sombra que a soterrou.

Ninil





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