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A dança
O
luminoso e tranqüilo reflexo do luar
misturava-se ao brilho trepidante da fogueira.
Era a mesma lua que se via há tempos,
onde o distante se fez espaço.
Essa luz derramava-se sobre todos
repleta de uma angústia infinita.
O suor fluia abundante pelas faces,
onde as desmedidas marcas do sofrer
anteciparam o acúmulo de tempo
concretizados numa velhice precoce.
O cansaço impregnado nos músculos,
aos poucos transmutava-se
numa envolvente e ritmada coreografia.
O suor misturava se às lágrimas,
desabando frenéticas ao solo,
salpicando-o de uma dor inefável.
Dor que fertilizará esse chão
para nunca ser esquecida.
Os corpos continuam rompendo a noite
com seus movimentos libertários.
Os pés sangrando, seguem o ritmo da alma
bailarina abstrata coreografando
o contorser-se desse corpo ferido.
O sangue dos pés se misturava ás lágrimas e ao suor.
O solo agradecia úmido de vida
e sorvia essa mistura
como um verdadeiro enxágüe espiritual,
sentindo do princípio da fenda à mais profunda raiz
impregnar-se de toda dor e esperança de um povo
arrancado do seu chão também pela raiz.
Hoje,
uma luz artificial continua impedindo
que o cálido manto da lua,
paire sobre os ombros ainda feridos.
Não mais pelo açoite,
mas uma suposta superioridade de odor medieval.
O chão que foi salpicado de sangue e lágrimas
foi coberto por uma espessa camada
de frio concreto e hipocrisia.
no meio de toda essa fuligem que envolve os dias
onde as pessoas e seus medos se escondem,
surgem esses seres coloridos que descortinam
ritmos e sons esquecidos
que nos sacode e remetem à lugares
que sentimos fazer parte.
Esses pés descalços se entregam à música,
Enlouquecidos recusam-se a parar,
até que o frio concreto
sinta o peso da leveza da alma,
cedendo numa fenda infinita,
de onde se possa ver que todo o sangue e lágrimas
não se secaram no passado.
Permaneceram atemporais,
cultivando a identidade
na imprescindível raiz.
ninil 2007
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