quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Sebastião






Sebastião

                                          A Sebastião Salgado 



Ossos espalhados pelo chão
brinquedos possíveis
de uma verdade circundante
expondo a fratura dos dias.
Olhar de Sebastião tão doce
sobre o amargo que se derrama
na ausência de cores
na insistência das dores e horrores
na rudeza da ruga que se refaz
em beleza na lambida da luz
no dorido desbotado que se amplia na retina
dos olhos abertos da criança sem vida.
Explora a dor dos outros?
Acusação vociferada dos olhos fechados
ante aos que gritam sua dor diariamente
ofuscados pela luz que cega
o olhar limitado em si mesmo.
Sebastião,
olhar que não se basta de tão outros
desvendando assim como no nome
o sagrado de cada pedaço de vida
que se junta a cada lugar desabitado
a cada trabalho que se desdobra das mãos
a cada novo êxodo sofrido pelo corpo
na gênese reconstruída pela luz
no diálogo com o perfume das formas.

                                       Ninil Gonçalves


Foto: Sebastião Salgado (Terra)

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