Foto: Francis Wolff (John Coltrane durante a gravação de Blue Train)
.
Sopro
a John Coltrane
Ar que
desconhece o espaço definido
esgueirando-se
em rodopios sutis
excitando os
infrenes brônquios
exímios
dançarinos impulsionados
pelo
invisível e poderoso alimento
fugindo pela verticalidade infinita
dessa
verdade quente e desmedida
que rasga em
sutileza a garganta
enlouquecida
ventania desabando
pelo vazio
gelado do mágico tubo
fôlego
adentrando tranquilamente
deslizando
pelo silêncio metálico
aquecendo
por inteiro esse corpo
em colorida
e inesgotável abstração
lançada em
brasa flamejante do peito
desabando na
quentura do sopro
possibilitando
a intensidade do grito
desvendando
o trajeto que se ilumina
transformando
em notas ferventes
a
invisibilidade aconchegando-se
na plenitude
conquistada no som
lançada
sobre o frenesi dos corpos
inaugurando
espasmos contínuos
arremessando-os
por todos os cantos
absorvidos
no redivivo instante
erguido
no rodopio infinito do sopro.Ninil Gonçalves
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