domingo, 26 de abril de 2009

espera

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Espera

És manhã, tarde e noite.
Veste-me
com todas as cores do seu tempo.
Eu te aguardo,
ansioso, ausente e colorido,
no meio do dia cinza.
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Ninil






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música na caverna

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Música na caverna

A Zabé da Lóca



Acostumado à secura do mundo,
o pulmão grita a serenidade
transmutada em melodia,
escorrendo pelas paredes de pedra,
derramando-se em infinitas notas
pelo chão coberto de um tempo único,
que não se configura sob ponteiros.
Tempo que se instaura dentro da música,
misturando-se ao instante contínuo da pedra,
na pedra do caminho e na pedra como ninho.
As sombras na caverna avançam ansiosas,
capturadas pela música nascida da vida
erguida sob a mínima função do respirar,
enchendo de luz todos os recantos do peito,
espalhada pelo tranquilo sopro
sobre as pedras e os corpos entregues
à ausência de um ancoramento racional,
sublevados no instante único do ser
condicionado a objeto flutuante
embebido na mais pura música.
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Ninil




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sábado, 25 de abril de 2009

Eco infinito

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Eco infinito

A Haroldo de Campos


No vão da memória
esvoaça o anjo concretamente abstraído,
pairando sobre as sombras absortas na voz
armada até os dentes...
de crisântemos erguidos no tempo,
sem tempo que finde
o flutuante espaço fixo
que repousa em qualquer canto,
em qualquer palavra, em qualquer coisa,
constituindo-se em contínuo movimento
entre, ante, sobre, dentro...
sob as pálpebras entrelaçadas na umidade
necessária e providencial na irrigação dos dias,
instaurando dentro desse eco infinito
a verdade moldada no passado,
onde o instante sufocou-se
diante do grito ensurdecedor
da voz surgida da palavra,
ecoando a continuidade do real
que não cabia mais em si,
atendo-se no instante que o fixou
na verdade construída em linguagem.

Ninil



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sábado, 4 de abril de 2009

Raimundo cai

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Rai cai

A displicência renovada infinitamente
ante as contínuas absorções
oferecidas pelo abraço sereno
de galhos matematicamente retorcidos,
esconde sob os pés de Raimundo
o escorregadio instante que inaugura
uma nova e inesperada queda,
logo musicada por um sorridente aprumo.

Ninil





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