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Sub-Missa
A longa e inextinguível vela
derrama pela parede gelada
uma dança de sombras aflitas,
contrastando com o brilho da chama
que arde entre a frieza do mármore
e a insistência de olhares engessados,
conferindo ao desmedido e irresistível ato
o caráter de implosão da suposta verdade,
logo restaurada sob a despótica e usual vestimenta.
O cálice irradia a interminável luminosidade,
ansiando o jorro contínuo de sangue
cristalizar o esgoto obscuro das veias,
insufladas na naturalidade recusada,
sepultando a inquestionável função do viver.
O incenso e o sangue fervente
intensificam o crescente rubor
da contorcida e branca face.
O balanço do crucifixo de madeira
é interrompido por abruptos solavancos,
envoltos no respirar entrecortado e gemidos sufocados.
A batina pende como longas e chacoalhantes asas,
caídas pelo abundante e suado dorso.
Olhos revirados , pousando o rosado mármore,
espalhando num estridente e estranho eco
o ruidoso arfar do satisfeito corpo.
O brilho do grosso e invejável anel
irradiando aura de poder e domínio,
reflete nos olhos e na sufocada alma
daquele que cumpre em silêncio,
o dever distorcido no dogma,
obstruindo prováveis percursos
do já calculado e estreito caminho.
Culpa e satisfação alternam-se
entre soberba e silêncio absoluto.
O grito sufocado instaura nos agitados corpos
o instante mergulhado em contrição e vergonha,
desconstruindo o incalculável valor do momento.
A porta da sacristia se abre.
As faces embevecidas e anestesiadas,
fartam-se no regozijo sublevado num coro.
O altar ergue-se na recompensa e no redimir
dos lentos e absortos passos programados.
o caminho a percorrer constrói-se
sob a alegria flutuante de um
e a angústia que se arrasta do outro.
O sagrado derrama-se em cada partícula
do murmurante e expiatório ambiente.
O silêncio instaura-se abruptamente
diante dos olhares suplicantes e aflitivos
numa onda de penitências e culpas,
orquestradas na ilusória condução
daquele que carrega entre os lábios
a suposta transmissão da verdade.
Os olhares se cruzam diante do cálice,
redimidos numa cumplicidade conquistada
sob o peso de uma eternidade construída
na medida única que lhe cabe como humano.
Mero espaço de cárcere contínuo,
acorrentando a infinita locução do ser
a um mínimo ponto insaciável de poder.
Ninil
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