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Momento
O tempo escorre silencioso
entre a imobilidade da rede vazia
e o pente que desliza suavemente
entre os obstinados fios brancos,
confirmando a ineficácia das tintas.
O vazio que preenche a cadeira ao lado,
assegura uma contínua presença,
jamais destituída pela matéria.
O lento gotejar nas roupas enfileiradas,
ampliam o multicolorido do horizonte
em úmidas bandeiras.
Os ouvidos lêem as infindáveis imagens da rua
interpretadas em mínimos latidos
ou balbuciados em displicente rosnar.
As pernas horizontalmente posicionadas,
trazendo aos insistentes e frágeis ossos,
a preciosidade do descanso,
desconstruindo o peso da verticalidade de décadas.
O silencio ergue-se e passeia com o vento
entre os mínimos movimentos da samambaia,
ao redor da flutuante poltrona.
Os tranqüilos e absortos olhares se cruzam.
O instante se constitui na eternidade
entre o afago e o abanar da cauda.
O tempo confirma em indecifrável certeza
este momento de existência.
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