sábado, 5 de março de 2011

Benedito Nunes 1929 - 2011

Trecho de  "Hermeneutica e Poesia" pags. 74 e 75

"A ciência da linguagem costuma ter como prolegômeno o tão famoso esquema da comunicação. Há um emissor de signos e há um receptor, abstratamente isolados. Mas tanto o emissor quanto o receptor não são apenas sujeitos, mas também interlocutores. O fenômeno de poder falar um ao outro seria uma condição transcendental da linguagem... Mas duas outras condições também são pertinentes: o ouvir, o poder-ouvir e o silenciar. Ora, quando ouvimos, ouvimos sons configurados; ao ouvir uma melodia, ou distinguir uma harmonia na música, ou ao ouvirmos alguém falar, estamos voltados para a significação daquilo que nos é transmitido. A outra condição que nos parece notável e pode ser aplicada não apenas à interlocução cotidiana como também à poesia é a possibilidade de silêncio. Já o silenciar faz parte do falar. Há certas coisas que não dizemos expressamente e deixamos subentendidas. O silêncio delimita o “falatório”, uma espécie de objetificação da linguagem, nossas palavras transformadas em coisas reificadas. Na medida de um certo silêncio conseguimos, ás vezes, dizer melhor, seja falando ou escrevendo."

Benedito Nunes


2 comentários:

  1. É dele essa frase: "A poesia deve ter também um certo empenho metafísico... Lutando pelo homem mas também exprimindo a sua situação no universo. Nós estamos sofrendo mal do relativismo, do qual não nos livramos e não sabemos como é que vamos nos livrar. Por exemplo: tudo pode ser interpretado. Até a má poesia pode traduzir um certo estado da sociedade."

    Beijos.

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  2. Sua obra é fundamental para compreendermos muitos autores e nós mesmos. Mostra a relevância do contínuo aprendizado.
    Bjs

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