sexta-feira, 1 de outubro de 2010

A tão sonhada carta de um candidato ao eleitor.

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A tão sonhada carta de um candidato ao eleitor.



Serei tão breve quanto espero que seja o nosso relacionamento, pois mesmo tomando todas aquelas atitudes para nossa aproximação, a minha intenção em relação à você é somente uma. Sei que não tenho a mínima capacidade para tratar das questões referentes a esta empreitada, mas também nunca me interessei por isso, tampouco os outros são diferentes de mim. Acho que cada um deve cuidar de sua vida e de suas necessidades primordiais, tenho as minhas e dane-se o resto. Fui impulsionado a participar disso por motivos óbvios, mas pouco importa saber quais são eles, o que vale mesmo são as atitudes para que isso se concretize. Até que não me saí tão mal para um principiante, no início me senti um tanto constrangido e inseguro devido aquela invasão à sua vida na busca de intimidade e entendimento. Aos poucos fui percebendo que não existe tanta dificuldade em adentrar certos mundos que estão aos pedaços aguardando por alguém que venha juntá-los. Pois é, como você mesmo pateticamente disse, neste mundo é cada um por si. Concordo plenamente com esta afirmação, mas infelizmente neste momento preciso muito de sua ajuda, mas não confunda as coisas, se eu tomei cafezinho, apertei suas mãos sujas, sentei na sua cadeira velha e torta, falamos sobre sua vida e necessidades que não me interessavam nem um pouco, te abracei com um aperto calculado devido ao seu asqueroso suor e meu terno novo, ouvi de sua boca desdentada e fedorenta, toda uma coleção de misérias e lamúrias que não pedi para que falasse, tudo isso fazia parte do pacote. Aceitei toda essa tortura porque sabia que isso teria um retorno, mas gora você acha que sou seu amigo, quer estar sempre ao meu lado, quer saber as coisas que eu gosto... que merda! Não percebe que eu me esforço tanto pra passar o dia ao seu lado? Será que não imagina que, quando chega o final do dia, eu tenho que tomar um banho de duas horas para me livrar desse seu cheiro de cavalo suado, como disse um dia o general Figueiredo? Será que não percebe qual é a única utilidade que você tem para mim? É sempre a mesma coisa, depois de um determinado tempo, eu tenho que enfrentar todo esse tormento. Na verdade existem algumas compensações, aquela sua filha é bem gostosinha. Não é mesmo, seu idiota? Também ficarei um tempão sem ver a sua cara e isso já me dá um imenso alívio. Mas não se preocupe, pois daqui a três anos e meio, no dia da inauguração daquele pedaço de terra horroroso que vocês chamarão de praça, estarei lá para abraçar toda comunidade, para que nunca deixemos de ter esse elo de amizade. Talvez eu até mande arrumar aquele esgoto que passa em frente à sua casa. Ah, ia me esquecendo, estou enviando o número do meu celular, mas é para sua filha, somente à ela, pois tenho um serviço especial para sua lindinha. Não se esqueça meu caro, mal-cheiroso e invisível cidadão, amanhã você tem um dever cívico comigo e com o seu país, deixar de votar é um ato, no mínimo, de covardia e alienação. Por isso conto com você para mudar a minha vida. Tchau! Até daqui a três anos e meio.

* Espero que o outro conteúdo deste envelope seja suficiente para não se esquecer do meu número quando estiver em frente à urna.



Com carinho, seu...



Ninil



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