terça-feira, 18 de maio de 2010

Sapos, Galáxias, IPads e Vulcões

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Sapos, Galáxias, IPads e vulcões.

Toda semana alguma matéria no jornal chama atenção para a “descoberta” de algum tipo de animal, que alguns insistem em classificar como uma nova espécie. Geralmente estas espécies são nomeadas com as mais estranhas denominações, que obviamente acabam derivando da cultura do homem, de acordo com sua a aparência ou hábitos. O mais estranho de tudo isso, é que essas descobertas causam imenso espanto nas pessoas. Como pode haver espanto nisso?
Acredito que a aparência destes animais é o que causa mais espanto ao homem, sim a aparência, pois o homem acostumou-se a se colocar como o absoluto ser superior que reside neste planeta e essa diferença entre os outros seres, não passa de pura deformidade, deles é óbvio. Mas acho que algo pesa mais sobre o olhar abismado sobre essas espécies que não são novas, tampouco estranhas. Esse distanciamento cada vez maior que o homem tem em relação á natureza, o faz olhar para um ponto cada vez mais distante, tanto em relação a si mesmo, quanto ao planeta e suas formas de um modo geral.
É muito mais cômodo e confortável observarmos as coisas com um certo distanciamento, talvez isso explique o sucesso dos reality shows, onde conseguimos resolver todas as questões alheias da maneira mais simples, enquanto os envolvidos estão num labirinto de dúvidas, no caso destes programas, dúvidas medíocres. Assim também nossos problemas são supostamente resolvidos quando buscamos um ancoradouro prático e comum ao dia a dia do homem moderno: o consumo. Assim nos esquecemos das necessidades primordiais do ser humano, que não é muito diferente daquele que viveu há milhares de anos.
Esse afastamento das necessidades ditas primitivas, que na verdade é somente a face mercadológica conduzindo nossos dias, nos afasta ainda mais das questões essenciais que nos fazem viver bem e que são colocadas como empecilho ao desenvolvimento real da sociedade moderna, não falo de resgate de sentimentos e atitudes importantes de uma época passada, mas sim de uma amenização na obsessão em ser mais moderno e avançado que o minuto anterior. Tudo é tão convulsivo e visceralmente competitivo, que a vivência e absorção do instante é a inimiga número um da construção de uma vida relevante.
Com relação aos animais chamados de novos, há muito o planeta Terra deixou de ser o principal foco das pesquisas do homem, hoje ele não passa de um objeto de sustentabilidade do homem, as pesquisas são voltadas para a indústria petrolífera ou farmacêutica, pois estas ainda geram lucros absurdos. O olhar se voltou com a fixidez de olhos hipnotizados para o espaço. Já não existem mais questões Darwinianas a serem discutidas, pois sabemos que a contagem regressiva para o fim dos recursos naturais, de todos os tipos, já foi iniciada. Os olhos agora se dirigem ao cálculo supremo ou o instante do sopro de Deus, como dizem alguns cientistas. O espaço se tornou um palco onde as vaidades são expostas sem receio algum, uma dança cósmica sobre trilhões de dólares que resolveriam questões essenciais terrenas, mas existe a necessidade da demonstração de força e potência, assim como sempre foi a necessidade do homem de obter e demonstrar poder.
Deixa-se de desenvolver pesquisas “possíveis” sobre o tratamento do câncer e do Alzheimer em prol de alguns quilos de pedras de Marte, mas não existe glamour algum em pesquisar doenças, nem é tão interessante para os bolsos da indústria farmacêutica. A descoberta de um lago em marte tem uma dimensão muito mais chocante do que encontrar uma planta que ameniza as dores de um tumor. Ainda existe a questão da vaidade científica, que em muitos casos, teorias são confrontadas, não por antíteses necessárias, mas visando a mera insuflação de egos.
Tenho um a imensa fascinação pela física, principalmente porque ela nos oferece um meio racional de compreensão das coisas, nos afastando da meras suposições imediatistas e reducionistas oferecidas pelo simulacro da religião,com suas verdades absolutas.
Acredito, assim como diz Marcelo Gleiser, que algumas questões extrapolam o que realmente é relevante, como por exemplo, os defensores da Teoria das Super-Cordas, que brigam com unhas e dentes para alcançarem a equação definitiva que mostrará o momento exato do sopro divino que desencadeou a construção do universo. O pragmatismo tão importante do mundo da física é deixado de lado e ela se transforma em uma quase religião e uma guerra de super-cérebros que se contentam com super-vaidades. Lembremos do caso recente do matemático russo Grigory Perelman que recusou um milhão de dólares por resolver a conjectura de Poincaré e ainda disponibilizou na web. Os jornais fizeram questão de frisar a sua atitude de recusa do dinheiro, do que propriamente a sua resolução do problema, foi chamado de idiota e louco. Estamos tão acostumados ao comando do dinheiro, que realmente isso nos soa como um grande absurdo. Assim como George Sand escreveu um dia que “o último grau da genialidade humana é a simplicidade”, Perelman com toda sua genialidade, tem a exata noção do que ele realmente precisa para a completude do seu ser. O problema é que não existe nem uma dezena de Perelmans pelo mundo.
O olhar desinteressado para o nosso imenso planeta, nos faz olhar coisas comuns como sendo aberrações ou seres estranhíssimos, sendo que somos parte deste mesmo sistema, mas cada um com sua particularidade. Ultimamente nossos olhos tem se voltado para as questões do planeta no que se refere á provável extinção da vida devido ao aquecimento global e mais recentemente ás catástrofes naturais e isso se torna mais preocupante quando isso pesa no bolso daqueles que comandam financeiramente o planeta.
A garganta flamejante do Eyjafjaillajoekull continua cuspindo os elementos essenciais que constituíram este planeta e a Europa sentiu isso na forma de um prejuízo financeiro gigantesco, mostrando o quanto o homem é vulnerável ás forças primitivas da natureza. Mesmo com toda tecnologia, dinheiro, satélites e tudo mais que torna o homem tão moderno, nada consegue deter a poeira do fogo que traz vida ao planeta e ele está ali há milhões de anos. Enquanto isso, o IPad faz pessoas dormirem na fila para ser o primeiro mais moderno do mundo. Os astronautas consertam um defeito em órbita. Os celulares 'ultrapassados' do ano passado se acumulam no lixo...
E o sapo...que passou a "existir" para nós depois que foi "descoberto" e que agora é chamado de sapo-Pinóquio, continua coaxando como há milhares de anos no seu cantinho úmido e escondido.

Ninil Gonçalves





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4 comentários:

  1. é preciso treinar o olhar de espanto

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  2. Eu queria comentar sobre seu blog; "Como ele está NeoNewave! Se é que isso existe." Mas após o texto prefiro comentar que nós é que estamos muito cinza!! Agradeço você por me lembrar de coisas essenciais.
    Mariana Z.

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  3. Eu entrei aqui por acaso, acabei me interessando pelo texto.
    Uma visão super afiada da decepcionante caminhada do homem.
    Belo post, grande abraço.

    Natanael.

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