sábado, 24 de abril de 2010

Exílio na Palavra

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Exílio na Palavra

à Sílvia

Do alto de sua pequena estatura,
esse delicado anjo da palavra
traz um amontoado de signos
sob as asas sempre abertas,
espalhando no ar rarefeito
uma multidão de inquietações
amparadas por outras mais,
não se importando se a poucos
seu vôo captura dos vagos olhares,
o crescente brilho das úmidas retinas
acostumadas ao insistente veneno
paralisando todos os músculos,
sucumbindo o desejoso planar
á um esquálido e suplicante rastejar.

Recusando o vôo que conduz a ventos
amorfos e propício a rasantes limitados
exila-se em crescentes tempestades
nascidas nas superfícies de páginas
arrancadas do interior do peito
sacudindo a temporalidade provisória
do que se faz mero sopro efêmero
despedaçando a condução do simulacro
em meros dejetos de algo inútil,
desfazendo os cachos do improvável
misturando-se aos olhares estupefatos,
cúmplices do mesmo ininterrupto vôo
nesse turbilhão brotando de cada página.

Ninil


Anselm Kiefer, Buch mit Flügeln, 1992-1994.
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Um comentário:

  1. Beleza intensa e brutal de quem esceve para quem escreve... É como o encontro de dois rios... Metalinguagem belíssima!

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