quinta-feira, 15 de abril de 2010

Céu - Vagarosa


foto: Marina Rebouças

Céu – Vagarosa

Mesmo tendo passado um ano de seu lançamento, não é tarde para falar do maravilhoso disco “Vagarosa” da Céu, mesmo porque quando a música é boa, ela é atemporal e com o passar do tempo ela vai se tornando mais saborosa, oferecendo o verdadeiro sabor de seu tempero.
Além de possuir aquela voz belíssima, ela é dona de uma beleza que me faz abraçar a expressão(que se torna clichê por se relacionar com seu nome) é que estamos realmente no céu ao vê-la e ouvi-la. Prometi não escrever isto, mas não dá para evitar, ela é linda.
Da mesma maneira que o primeiro disco, este “Vagarosa” já seduz de cara, pois as músicas são todas boas e a produção um primor. Agora, o que acontece após as contínuas audições, é o que realmente dilacera. Os arranjos nos conduz por caminhos nada óbvios e muito criativos. Cada instrumento é explorado minimamente, com uma precisão harmônica de fazer inveja a muitos veteranos, dando uma riqueza de elementos sonoros como uma paleta de mestre. Os motivos para tanta criatividade são explicados, ela viveu rodeada de música a vida inteira, mas muitos vivem e não possuem essa força criadora.
As influências sonoras são muitas, mas nenhuma delas é abertamente convocada, todas são sutilmente exploradas e ás vezes se misturam de maneira desconcertante: O samba “Sobre o amor e seu trabalho silencioso” que só tem cavaquinho e voz, se une a “Cangote” por um chiado de vinil, então começa o deleite que vagarosamente vai tomando conta dos sentidos.
A música da Céu não dá para classificar, chamar só de MPB é tirar méritos de alguém que se mostra conhecedora de muitos sons e os utiliza de maneira singular. Tanto no maravilhoso arranjo para o trombone de “nascente”, quanto nos discretos e certeiros scratches, passando pelas inserções de ruídos que lembram o Portishead. Ela mantém as tradições e a enriquece com elementos modernos que não são utilizados como meros complementos e sim pinceladas sonoras nesse amálgama poético. Em “Rosa Menina Rosa” percebemos essa reverberação sônica que traz estes elementos e transforma a música de Jorge Bem numa grande viagem.
A delicadeza de sua voz deita suavemente sobre o tímpano e este se acostuma e não quer saber de outra coisa, seu canto é algo que há muito não se via no Brasil. Apesar de ser um país de grandes cantoras, ela se coloca como referência dessa geração de novas e boas cantoras, não é à toa que está sempre sendo requisitada para shows no exterior, mesmo sendo uma cantora nova, só com dois discos lançados.
“Bubuia” é uma das coisas mais lindas que já ouvi até hoje, mas “”Grains de Beauté” é dilacerantemente bela, sua voz faz um vôo sereno e lânguido sobre um blues estruturado no baixo e na bateria. Aos poucos esse vôo vai mostrando um timbre que lembra Billie Holiday nos seus momentos mais serenos e belos.
As razões da grandiosidade deste "Vagarosa" são muitas, desde a esmerada produção, passando pela afinidade e qualidade dos músicos, complementando com o amplo diálogo com os mais variados ritmos, que não se apresenta como mera demonstração de ecletismo, mas sim, de ecos das inúmeras referências musicais de todos os envolvidos no trabalho e elas surgem naturalmente no resultado final.
É um belíssimo trabalho em conjunto, mas o que realmente faz a diferença é a presença da Céu. Suas letras são muito boas e espertíssimas, a voz transita da leveza absoluta aos timbres mais ritmados e suingados, com pureza e precisão.
Para aqueles que acreditam que o céu é o paraíso, o regozijo é pleno em encantamento pela angelical voz dessa deusa do canto. Para aqueles que veem uma grande verdade na frase de Aldous Huxley: "Além do silêncio, o que mais se aproxima e exprimir o inexprimível é a música", a voz da Céu traz todos os elementos de uma expressão artística de alto nível e eleva nossos sentidos ao mesmo patamar.

Ninil




4 comentários:

  1. adoroooooooooooooooooo!!!!!

    de ouvir milhões de vezes e ter orgasmos musicais, rsrs!

    beijos.

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  2. Tb adoro. Ela é maravilhosa!

    Boa escolha...

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  3. ..."não ser reconhecido, de não ser lembrado"...

    Ninil,
    Lamento muito você não ter colocado o meu crédito como fotógrafa do close da Céu (1ª foto), fui eu que fiz.
    Em tempo, também gosto da cantora Céu.
    bjs,
    Marina Rebouças ( www.flickr.com/marinosssauro )

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  4. Olá Marina, perdão pela falta do crédito na autoria da foto, já coloquei e também vi sua página no Flickr. Parabéns pelo excelente trabalho! Bj

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