quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Musicasadoser




Melodiária

Dissolvendo a escuridão entre cantos, passos e bocejos
a manhã sacode os corpos da vastidão noturna
no adágio que inaugura nos pés a lentidão do aprumo
que aos poucos se deita sobre a verticalidade usual
rasgando o horizonte...
Tateante na claridade que cega os passos desbotados,
vazando lentamente as notas por todos os poros.
Andante...Já deslizando sobre acordes rompantes,
sob o sol que vocifera na clave a dinâmica que derrete
qualquer intenção de deslocamento abrupto
congestionando a pauta sufocada em si,
dilacerada entre o abismo e o vôo.
Quase em allegro o corpo se farta em sombras
lançando-se nas camadas escuras que abraçam
cada mínimo espaço transparente e luzidio,
instaurando em longínquas e crescentes notas
a escuridão que convida os corpos a se descobrirem
no grave que se derrama tranquilamente ao redor
prontamente esfacelado pelo prestíssimo grito
que só a noite com seu negro manto pode oferecer.

Ninil

2 comentários:

  1. Uma musicalidade incrível! Parece que ao ler, crio trilhas sonoras específicas na minha mente e vou andando na minha jornada diária com ele sendo recitado de forma veemente!
    Me lembrou Rimbaud, Ninil...
    Fascinante como Sempre!
    Beijo!

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  2. Aprendi com você a importância da música na nossa vida, após ter me apresentado aquela frase do Aldous Huxley: "Além do silêncio, o que mais se aproxima de exprimir o inexprimível é a música". Depois de ler este "Melodiária", vejo que seu dia continua soterrado sob a amplidão da mais intensa das artes. Dividir o dia como se fosse uma sonata ficou surpreendente e belo, sem falar na "musicalidade" e no ritmo do poema que ficaram intensos e precisos. Parabéns!

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