Descartável ?
O que se condicionou a chamar
apenas de corpo,
sem nome ou apelido
que lhe instaure no ser
a unicidade de sua existência,
foge por ruas iguais
de nomes sempre iguais.
Corpo desarmado, desalmado, desbotado,
sobra de algo que a fraca lembrança
esconde sob uma opacidade proposital
embebida em álcool e algo mais.
Amenizando os ais reais brutais,
fustigando o que sobrou (sobrou?)
do corpo carcomido pelos dias
infinitamente longos e hostis.
Sobra de tudo que não vale nada,
nada que não valha aquilo que sobra.
Mera imperfeição numa paisagem
devidamente calculada e higienizada
para que os cães e os casacos de peles
deslizem alegres e perfumados,
esperando que olhares dêem sentido
à essa existência rasa e superficial,
estruturada em valores de acúmulos abismais,
cúmplices ou munidos de total intenção
tanto na indiferença quanto na descartabilidade.
Colocando seres de potencialidades iguais
no canto mais sujo de um mundo à parte,
onde o que se reparte são as dores,
os odores, o pão e a pinga,
para se lembrar que é preciso esquecer
que foi esquecido.
Ninil 2008
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