sábado, 24 de maio de 2008

Descartável?

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Descartável ?

O que se condicionou a chamar

apenas de corpo,

sem nome ou apelido

que lhe instaure no ser

a unicidade de sua existência,

foge por ruas iguais

de nomes sempre iguais.


Corpo desarmado, desalmado, desbotado,


sobra de algo que a fraca lembrança


esconde sob uma opacidade proposital


embebida em álcool e algo mais.


Amenizando os ais reais brutais,


fustigando o que sobrou (sobrou?)


do corpo carcomido pelos dias


infinitamente longos e hostis.


Sobra de tudo que não vale nada,


nada que não valha aquilo que sobra.


Mera imperfeição numa paisagem


devidamente calculada e higienizada


para que os cães e os casacos de peles


deslizem alegres e perfumados,


esperando que olhares dêem sentido


à essa existência rasa e superficial,


estruturada em valores de acúmulos abismais,


cúmplices ou munidos de total intenção


tanto na indiferença quanto na descartabilidade.


Colocando seres de potencialidades iguais


no canto mais sujo de um mundo à parte,


onde o que se reparte são as dores,


os odores, o pão e a pinga,


para se lembrar que é preciso esquecer


que foi esquecido.


Ninil 2008




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