sexta-feira, 19 de março de 2010

Poesia

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Poesia


Dias atrás fui questionado sobre a real função da poesia, já que tinha dito a essa pessoa que não escrevia poemas por mero esteticismo, com a função de trazer a beleza das coisas ao meu redor, tampouco com a intenção de ganhar dinheiro, pois os livros de poesia são os que menos vendem e a maioria pouco se importa com essa linguagem que é lembrada somente quando alguém quer conquistar outra pessoa e procura por “poemas de amor” no Google e também nem sei se algum dia conseguirei publicar algo. Escrever poesia não dá dinheiro, veja o caso de Roberto Piva que está hospitalizado e sobrevivendo com a ajuda de amigos para a sua internação, mesmo sendo um poeta reconhecido e uma grande referência para muitos poetas. Li também num blog, que a poesia era apenas preguiça e indisposição em se fazer prosa, pois a economia de palavras era imensa e o trabalho de construção do texto bem menor. Ora essa! Isto é tão ridículo quanto dizer que algumas pessoas optam em fazer publicidade porque cinema dá mais trabalho e outros vão fazer arquitetura em vez de engenharia e por aí vai...
Fazer poesia é tão trabalhoso quanto fazer prosa, assim como é trabalhoso fazer qualquer outro tipo de trabalho bem feito, pois qualquer trabalho oferece uma determinada dificuldade, que somente através de um esforço físico ou mental poderá ser superada de acordo com o que se pretende apresentar como um trabalho realmente bem feito. Acredito que meus textos são interessantes dentro das minhas possibilidades, potencialidades e limitações, mas também acredito que posso melhorá-los através de pesquisas e estudos contínuos, mas também não quer dizer que algum dia eu faça algo realmente de qualidade. Acredito na poesia como um ponto de partida para uma importante reflexão social e ontológica, mas cabe a cada um essa interação com o elemento poético e a maneira como o ser se portará diante da recepção dessa linguagem. Uma das definições mais fantásticas e abrangentes sobre poesia, foi proferida por Heidegger: “ Poesia é a fundação do ser mediante a palavra” , daí eu acredito que parte essa reflexão sobre as questões existenciais através da linguagem escrita. Desde a Grécia arcaica a poesia foi utilizada como elemento de descobertas e investigações do ser diante de questões pragmáticas e metafísicas, mas com o tempo outras linguagens foram substituindo-a, até que seu espaço nas livrarias se resumisse á uma mera prateleira, refletindo sua relação com a sociedade.
Acredito também que muitas pessoas estão sempre buscando uma função para algo que realmente acreditam, como se isso fosse dar status de algo realmente relevante ao que se prontificam a fazer e que para ser visto como tal, existe a necessidade de um aval social para que sua relevância seja comprovada, esse simulacro exige que tudo tenha seu papel específico para que possa ser avaliado e rotulado com sua especificidade dentro do motor social, mas precisamos nos lembrar que esse motor é regido por elementos tão efêmeros que seu tempo de vida é tão breve quanto o outro que o substituirá. Diante de uma sociedade se utiliza destes padrões para a avaliação de todos as coisas, a poesia realmente não tem relevância, pois ela trata do elemento humano como sua maior matéria prima e este, diante do absurdo tempo de vida da Terra(bilhões de anos), nasceu ontem e para esse ser, Homero, Dante, Shakespeare, Milton, Cristo, Goethe...ainda fazem sentido e continuarão fazendo, pois como disse Baudelaire: “O que há de mais absurdo que o progresso? Já que o homem, como é provado pelos fatos de todos os dias, é sempre igual e semelhante ao homem, Isto é, sempre no estado selvagem.”
Como a poesia pode ser considerada coisa antiga se organicamente somos os mesmos como há milhares de anos atrás e se somos tão modernos, por que ainda continuamos carnívoros?


Ninil Gonçalves






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2 comentários:

  1. Certas coisas já está arraigada na essência humana...
    A poesia existe em tudo e é como dizia João Cabral de Melo Neto "Com Mão trabalhada sem perfumar sua flor" que a apreciamos e temos essa ligação tão forte com ela...
    Ahhh como eu sei como a minha relação com ela é difícil! Mas o seu texto expressa exatamente o que eu sinto as vezes quando confrontada com ela... É como um romance onde pouco nos vemos, mas mesmo assim nos mantemos completamente apaixonadas uma pela outra...=)
    Adorei o texto, Ninil, e realmente, ela nos faz sangrar...
    Beijo!

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  2. Fica difícil para quem não a alcança encontrar qualquer função, principalmente a social, na poesia. Poetas preocupam-se mais em ser do que em ter, - o que a mantem viva. E neste mundo em que vivemos, quem é capaz de compreender isso? De fome de poesia morrem os ignorantes. Os que não sabem para que servem os sentidos. Os que só conseguem ver um significado para cada palavra. Os que não encontram razão na emoção. Ou, ainda, os que não vislumbram infinitos por detrás das pequeninas frestas.

    Adorei o artigo e tudo que li por aqui. Bjs e inté!

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