Chegou o livro da Academia Brasileira de Letras em que foi publicado meu ensaio fotográfico sobre a cidade de Cristina. Em vez de fogos, ouvirei os discos que mais curto e lerei os poemas que mais me encantam, e obviamente pensarei muito na minha querida mãe, que mesmo não sendo alfabetizada, me ensinou muito sobre poesia, a Dona Lázara. Minha intenção não é superestimar o meu ensaio, mas também não dá para minimizar a importância imensa da mais antiga revista de literatura do Brasil. A Revista Brasileira existe há 163 anos e sei claramente seu valor representativo no cenário cultural e além do mais tem o Alfredo Bosi no conselho editorial . Esse tipo de publicação acontece só uma vez na vida e já fazia dois anos que este ensaio e um artigo falando sobre meu trabalho estavam com os editores para aprovação e que só agora decidiram publicar. Felicidade maior foi perceber que em vez de publicarem as fotos em sequência, eles espalharam as 15 fotos pelas 286 páginas do livro, ilustrando os primorosos textos dos autores. No mais, sei que essa caminhada eu não faço sozinho, pois tem muita gente bacana envolvida nesse percurso e agradeço do fundo do meu coração a todos aqueles que me apoiaram e apóiam nessa luta. Quem tiver interesse no livro, ele está disponível pra venda somente no site da Academia Brasileira de Letras.
Absorções
Ninil Gonçalves
quinta-feira, 24 de maio de 2018
segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017
Ler Manoel
Ler Manoel
A Manoel de Barros
A Manoel de Barros
Leitura que se faz como fósforo aceso
beijando a gente
grama crescendo no peito orvalhado
da cinza do dia
Espesso instante que se agiganta além
gritado em mínimo verbo
Ler Manoel precisa de manual de barro
que se desmancha
sob a chuva, sob a displicência do pisão
ensinando sabências
de quase nada que interessa nesse mundo
de barro grudado no ar
Ninil Gonçalves
Desenho: Manoel de Barros
sábado, 21 de janeiro de 2017
Espera
Espera
És manhã, tarde e noite.
Veste-me
com todas as cores do seu tempo.
Eu te aguardo
ansioso, ausente e
colorido
no meio do dia cinza.
Ninil G.
quinta-feira, 19 de janeiro de 2017
Disrupção
Disrupção
Este músculo oco, cansado e insistente
retém em camadas subsequentes
cada instante ampliado em batidas
em ecos sutis sacudindo a epiderme,
espalhados pela caixa de ressonância
repercutindo o fremir em cada célula.
Este coração que recusa o silêncio
foi arrancado da terra num ímpeto
abandonado à solicitude do solo
tomado ao evanescente ritmo do tempo.
Restabelecido no ritmo pleno da duração
um novo gesto refazendo o devir renovado
desvendando essa docilidade vermelha
mesmo no suave deslizar da lâmina diária.
Carne pulsante aconchegada na palma da mão
medo, dúvida, poder, aflição, ansiedade
tudo vazando solenemente entre os dedos.
Batimento renovado em ritmo alheio
(des) fazendo-se em uníssona harmonia
até que surja furioso e inesperadamente
o silencioso e derradeiro corte.
Ninil Gonçalves
quinta-feira, 12 de janeiro de 2017
Sebastião
Sebastião
A Sebastião Salgado
A Sebastião Salgado
Ossos
espalhados pelo chão
brinquedos
possíveis
de uma
verdade circundante
expondo a
fratura dos dias.
Olhar de
Sebastião tão doce
sobre o
amargo que se derrama
na ausência
de cores
na
insistência das dores e horrores
na rudeza da
ruga que se refaz
em beleza na
lambida da luz
no dorido
desbotado que se amplia na retina
dos olhos
abertos da criança sem vida.
Explora a
dor dos outros?
Acusação
vociferada dos olhos fechados
ante aos que
gritam sua dor diariamente
ofuscados
pela luz que cega
o olhar
limitado em si mesmo.
Sebastião,
olhar que
não se basta de tão outros
desvendando
assim como no nome
o sagrado de
cada pedaço de vida
que se junta
a cada lugar desabitado
a cada
trabalho que se desdobra das mãos
a cada novo
êxodo sofrido pelo corpo
na gênese
reconstruída pela luz
no diálogo
com o perfume das formas.
Ninil Gonçalves
Foto: Sebastião Salgado (Terra)
quarta-feira, 11 de janeiro de 2017
Aula
Aula
À Ana Maria Haddad Baptista
O tempo redescobria-se entre as palavras
dispostas em formato único de decifração
daquilo que não pede para ser medido,
mas submete-se à mediação do pensar,
concretizando-se em tocável verdade.
Lousa infinita sorvendo vivos instantes,
transportados de espectros atemporais
à melodia rabiscada e revivida em pó.
Passos transitam o léxico em suave dança
alcançando a memória no exato momento
que cumpre o bailado impreciso do ser,
guiando na precisão
orquestrada do verbo
o olhar diluindo-se no esparramar contínuo
dessa amplidão vestida de pensamento.
terça-feira, 10 de janeiro de 2017
Liquidoficando (2011)
Liquidoficando
a Zygmunt Bauman
Estou liquidado?
Creio que não!
Não no estado em que me encontro.
Apesar de tudo vazar-me incessantemente
desconstruindo o quase feito
o quase sólido, o quase algo.
A solidez programada decompõe-se
diluída numa estrutura erguida
sob a facilidade do efêmero
enquanto contínuo provedor
de necessidades cruciais,
crucificando a dificuldade
congelando o pensar.
Estou liquidado?
Não!
Estou mineralizando a sujeira
dissolvida em líquidos dias.
Ninil Gonçalves
Meia-boca inteira
Meia-boca inteira
Embora o
que ofereço é coisalguma
ou quase
nada que não pague nem valha
o tempo afugentado
por fastidiosa aventura,
ouso dizer
que minha meia-boca
sorve em
insaciável desmedida a inteireza
daquilo que
a vida oferece parcamente,
degustando
em ressignificação contínua
meiaboquíssimamente
o destituído
de mínima valoração
ante a
assoberbada avidez insípida da bocarra
que
sequer saboreia uma fração da totalidade.
Ninil Gonçalves
domingo, 8 de janeiro de 2017
Cristina nos Olhos
Cristina nos Olhos
Lâmina
negra desenrolando-se
rasgando
o verde silencioso
afunilando
o rumo certeiro
entre
falantes memórias soltas
gritando
passado em sussurros
de
nítida atemporalidade verbal
destituindo
da velocidade do olhos
o
apreendido no raso da retina
restituindo
o que se enroscou
no
abismo profundo do olhar
espiralado
ao primitivo instante
deitando-se
em lembranças diárias
do
ruidoso afago das esquinas
do
insistente murmúrio das águas
na
noite que nunca termina
no
dia que nunca tem fim
na
vida que anda a passos calmos
nos
instantes que nunca se perderam
recuperados
nos delicados acordes
que
brotam entre pedras, gramas,
tijolos...
em cada passo que se perde
onde
sempre me acharei.
quinta-feira, 5 de janeiro de 2017
Sussurro
Sussurro
Alguma coisa dita
assim
ao pé do ouvido
traz
inteligível sussurro
entoando
a porção suficiente
daquilo
que grita no peito
surdinando
o alarido do corpo
Ninil Gonçalves
Releitura
Releitura
A
mesma posição sempre
O
caminho a percorrer inalterado
O
bip do microondas anunciando o jantar
A
angústia manipulando atitudes
O
despertador sacudindo o quarto
O
sapato gastando-se pelas mesmas avenidas
As
vinte e cinco mastigadas costumeiras
A
mesma reza antecipando o sono
O
sono prenunciando outro número no calendário
O
peito vazio igual a ontem
O
mesmo caminhar com o cachorro...O quê?
-Nunca
empacaste desta maneira!
-Nunca
latiu desta forma pra mim!
O
instinto subvertendo regras
As
posições improvisando temas
O
caminho desenvolvendo-se a cada passo
O
leite derramou no fogão
A
angústia equilibrando atitudes
O
sol derrubando as paredes
O
chinelo arrebentou em alguma esquina
O
sanduíche sendo dividido
O
sono veio no meio da meditação
Os
dias paridos na renovação do sono
O peito
vazando novidades e incertezas
As
patas perdendo-se pelas ruas...Quantas!
Nunca
correste tanto como agora!
Nunca
latiu tão euforicamente. Nunca!
Ninil Gonçalves
quarta-feira, 4 de janeiro de 2017
Mecânica
Mecânica
Seria a lágrima
o combustível dos
sonhos
vazando do tanque do
peito
entupindo as velas do
pensar
soluçando no
escapamento da voz
desabando pelos
faróis da alma
afogando o motor do
coração?
Ninil Gonçalves
segunda-feira, 2 de janeiro de 2017
Sopro
Foto: Francis Wolff (John Coltrane durante a gravação de Blue Train)
.
Sopro
a John Coltrane
Ar que
desconhece o espaço definido
esgueirando-se
em rodopios sutis
excitando os
infrenes brônquios
exímios
dançarinos impulsionados
pelo
invisível e poderoso alimento
fugindo pela verticalidade infinita
dessa
verdade quente e desmedida
que rasga em
sutileza a garganta
enlouquecida
ventania desabando
pelo vazio
gelado do mágico tubo
fôlego
adentrando tranquilamente
deslizando
pelo silêncio metálico
aquecendo
por inteiro esse corpo
em colorida
e inesgotável abstração
lançada em
brasa flamejante do peito
desabando na
quentura do sopro
possibilitando
a intensidade do grito
desvendando
o trajeto que se ilumina
transformando
em notas ferventes
a
invisibilidade aconchegando-se
na plenitude
conquistada no som
lançada
sobre o frenesi dos corpos
inaugurando
espasmos contínuos
arremessando-os
por todos os cantos
absorvidos
no redivivo instante
erguido
no rodopio infinito do sopro.Ninil Gonçalves
sábado, 31 de dezembro de 2016
Colcha
.
Colcha
Acontece que o tempo tece
sem sobrolhos aprumados
tampouco olhares revirados
com o fio doído dos dias
o tecido abastecido de sombras
alternando pedaços luminosos
retalhos iluminados persistentes
de acabamento pendendo ao irregular.
Em regressiva exatidão ou não
a certeza do findar-se se mostra
ampliando o valor de cada ponto
alinhavado no que lhe cabe
não cabendo em si de tantos pontos.
Retalho que se mostra exato
na imprecisão que conduz espontânea
à simetria do desigual preciso.
Estendida sobre a silenciosa cama
aguardando o sonho contínuo infinito
os retalhos se agrupam harmoniosos
cada qual no espaço que lhe cabe
desmedidamente complementar
na assimetria unívoca que grita
a vontade de ser totalidade plena
que só existe no amálgama construído
dos mínimos fragmentos fracionados
costurando
o que só se vê no todo.
Ninil Gonçalves
quarta-feira, 21 de dezembro de 2016
Diálogo
Diálogo
Gaveta do peito escancarada
jorrando o que não cabe em si.
Necessidade do diálogo pleno
enfrentando o perigo do ego.
Mínima parcela de culpa
ante o ato de vociferar o subjetivo,
máximo de consciência sobre
a pequenez do gesto de visibilidade
do mínimo ponto que me inaugura
na totalidade de múltipla vozes.
O esconderijo se mostra ao todo,
a todos se dispõe o vozerio da caverna
não mais repleta de sombras,
mas coberta sutilmente por uma
Inevitável transparência.
quinta-feira, 15 de dezembro de 2016
Lugar Para Esconder a Dor
.
Lugar Para Esconder a Dor
a Dom Paulo Evaristo Arns
Tragam pra cá todos os infidelis
ao ato inaugurador de mais uma dor,
todos aqueles que não precisam rezar.
A reza rasa só deita na superfície
dos bancos vazios lustrados.
Tragam aqueles que a pátria que pariu
não acalenta no sono
que merecem,
tira-lhes a própria vontade de sonhar.
Amontoem-se nos altares, bancos, sacristias...
ousem na fala o que a reza da cartilha
silencia nos atos diários.
Que a ekklesia seja ato e não só lugar
seja verbo e não condicionamento de fala.
Que os corpos vivos se amontoem
num só calor sobre o mármore gelado
que a prece só tenha pressa em findar
com a mordaça e o grilhão impostos
ao corpo que é a verdadeira igreja.
Ninil Gonçalves
terça-feira, 20 de setembro de 2016
Cadaveroso
Cadaveroso
Nomeio-me ato falho
Ao descobrir
A falácia empenhada
Sofrida
Busca desenfreada de sentido
Ao ser
Mero verso puído pequeno
Ante
A grandiosidade do sentir.
Defino-me inteiridão
Ante
O ato falho falado
E não sentido.
..............................
Despido da solidez
Entendo a imensidãoUsurpando o mísero
Sopro de engano.
.
sexta-feira, 19 de setembro de 2014
No Jardim
No Jardim
Flor bicho palavra sol
nuvem nem ousa
vem vento roçar
pelo pele alma.
Altitude máxima para me alcançar:
sopro rente ao solo!
Me ausento na mínima grama rala
brotando sob os pés ausentes
esperando o abraço molhado
da gota sorridente caindo da folha.
quarta-feira, 9 de julho de 2014
Vazio
.
Vazio *
Às crianças
de Gaza
A
lágrima é usada apenas para lavar os olhos
do
sangue e da fuligem acumulados em excesso
sobre
os delicados e impacientes cílios.
A
dor ultrapassou o sentido desse líquido.
O
pequeno e esvoaçante corpo,
acostumado
em ligeiras fugas
sobre os contínuos escombros
nas
improvisadas brincadeiras
sucumbe
ao peso esmagador
do
vazio infindável e nebuloso
instaurado
sob a necessidade incessante
de
se colocar perante o que se chama de inverso,
numa ilusória preeminência.
Subtraindo
a excelência da descoberta
da
grandiosidade que brota no outro.
O
amontoado de lixo político avança,
sobrepondo
o real valor humano.
Desfigurando
e arrancando das faces
a descompromissada gratuidade do riso
e
a sutileza da mudança brotando na íris.
Cobram
um valor demasiado alto
de
existências exauridas de si,
constituídas
na mecanicidade de dogmas
e
valores encarceradores.
O
rápido esvair de vida do pequeno corpo
enroscado
sob um amontoado de aço e concreto
não
é empecilho ao desenfreado avanço
da
estrondosa gargalhada do poder.
Meros
pontos de calor esfriando
sob
o sol escaldante.
Meros
invólucros de almas,
esvaziando-se
de si.
.
* Absorções (2011)
Fotos: Mohammed Salem (2014)
sábado, 19 de abril de 2014
Pano de Chão
Pano de Chão
Lambendo
cada vinco de tempo
esquecido ou
vivido
espalhado
pelo chão.
Deslizando-se
sobre momentos
fugidios ou
abraçados veementemente
arrastando para
si o sim e o não.
Língua roçando
cada fresta
disposta em
geometria vã
direcionada
à única absorção.
Amontoado de
instantes outros
noutros se
fazendo todo.
Amalgamada (de)
composição
conspurcando
os fios da pele
na
invisibilidade espalhada
que só se
mostra com o tempo.
Cuspe do
tempo no granito
absorvido na
lentidão do passo
torcido no
ralo dos dias
vomitando-se
a sobra
juntando-se aos
novos resquícios
insistentes
na superfície.
Seco e
devidamente tatuado
com os
vestígios diários
pela limpeza
oferecida
dança solene
ao vento
orquestrando
seu plano de voo
reinventando seu plano de chão.Foto: Ninil
.
domingo, 30 de março de 2014
Gesto Imenso
Gesto Imenso
O silêncio dissolveu por completo
o mínimo que gritava amplitudes
infinitamente melódicas e sutis
impronunciáveis na velocidade cega.
A frieza se esparrama pelo corpo estático
tateia tranquilamente a imensidão
na imobilidade coreografada
absorvendo o sussurro do eco
fundindo a preciosidade do fragmento
na totalidade em fruição contínua
envolta na grandeza do gesto mínimo
atando a extensão diminuta do riso
à imperceptível inundação de lágrimas
conduzindo o silente coro dos poros
no grito que se descobre incomensurável
expandido em silêncio absoluto.
.
sábado, 29 de março de 2014
Australopithecus Digital (1)
.
Australopithecus Digital (1)
Vã locomoção desencadeada pelos
sentidos
conduzindo à letargia dos passos
adestrados
habituados à comodidade da
simulação.
Tecnologia apregoando a reflexão
do espanto
nas características assombrosas
do novo
desdenhando o antigo ainda
desconhecido.
Minúsculo chip cabendo todas as
emoções
inaugurando o reservatório de
cada um
descartando a infinitude
disposta no invisível
redimensionado às usuais
necessidades do ser.
Calcanhar antecipando qualquer
movimento
que tenha brotado
silenciosamente do córtex
em direção à descoberta de si
mesmo.
Caminho estreitado ao imposto
continuamente
Reduzindo-se ao simulado no GPS de cada dia.
Calcanhar insistindo no aprumo
desenhado
sobre rascunho elaborado pelos
sentidos
desdenhando o valor atemporal de
cada um
utilizando-os não muito além dos
recursos
estagnando-os na mera
funcionalidade irracional
entregando-os em sua complexa
completude
à virtualidade desconhecida pela epiderme
rumo ao que só o calcanhar
oferece como caminho..
quarta-feira, 26 de março de 2014
Superfície
Superfície
Cultuando o afeto na superfície
saboreando o quase na totalidade.
Dançando através da própria imagem
ignorando o desvanecimento musical.
Fazendo o caminho com o calçado
esquecendo os pés na próxima pegada.
Observando a luminosidade nas retinas
dissolvendo dos tons a profundidade.
Aceitando o tempo dos ponteiros
afogando-se na contínua duração do rio.
Monetarizando a eloquência do ser
alimentando a exiguidade no devir.
Revestindo-se em transitório brilho simulado
confundindo-se com os próprios objetos
pela opacidade cultivada e refletida..
quinta-feira, 20 de março de 2014
Satisfeito
"Na facilidade
com que o espírito se satisfaz, pode ser medida a extensão daquilo que está se perdendo." Hegel
Tomatina
Satisfeito
Do céu da boca
ao inferno do ânus
o que torna distinta
a delícia da comida
do horror das fezes
é a digestão
ao inferno do ânus
o que torna distinta
a delícia da comida
do horror das fezes
é a digestão
eclodindo
em decomposição.
Tanto a saciedade
quanto o alívio
carregam em si
Tanto a saciedade
quanto o alívio
carregam em si
sinais de satisfação
de um corpo bem alimentado.
A dicotomia do satisfazer
ergue-se
já deteriorando-se
entre arrotos e flatos
tendo entre os dedos
uma nota de cem
como guardanapo ou papel higiênico.
-E dane-se o vazio gástrico
de quem o tem!
de um corpo bem alimentado.
A dicotomia do satisfazer
ergue-se
já deteriorando-se
entre arrotos e flatos
tendo entre os dedos
uma nota de cem
como guardanapo ou papel higiênico.
-E dane-se o vazio gástrico
de quem o tem!
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