Casa
Os pombos que arrulhavam no forro que não tenho
Impediram-me de dormir metade da noite pra trás
na confusão de bater de asas e bicos dentro do sofá
que foi vendido a alguém na semana passada.
O pingo de água prestes a desabar da torneira
retrocedeu impetuoso pelo corpo metálico
deslizando e desaparecendo no tubo ressecado.
Os alto-falantes absorviam as notas do vento
ruídos externos e o abraço contínuo da poeira.
A TV desconectada de sua elétrica alimentação
refletia apenas lentos vultos na tela apagada.
As molas da cama perfuravam o corpo acordado
horizontalizando-se mediante o peso do invisível.
A descarga sugou juntamente com os dejetos
o corpo que se ocupava das sobras inexistentes
do alimento que boca alguma se apraz em comer.
Os livros trepidavam no fogo contínuo do ser
encharcado pelo sereno incessante do mundo
depois que o telhado perdeu sua utilidade.
Ninil
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