Primavera Surgindo Entre Chamas
A Mohamed Bouazizi
Em pleno inverno a primavera avançava entre os dentes.
Dentes rangentes esquecidos da suavidade do riso,
entrecortando ao vento as palavras suplicantes da lida.
Vida ditada conforme a necessidade de outros
complementos à sua necessidade de ser amor contínuo.
A fúria, o riso e a ousadia em vestir-se de trabalho
entre o colorido das frutas e manejo do carrinho.
Entre a costumeira reza e o grito urgente de sobrevivência,
a voz que mutila soterra de razões inventadas o ferimento,
distribui cusparadas e distorcidas leis ao corpo cansado.
As frutas, o trabalho, a educação e a vida apodrecem
nas calçadas famintas ante os palácios ecoando risos.
A primavera avança entre os dentes em incandescente fúria,
mas a insuficiência do grito necessitou que o clamor queimasse,
inflamando outros gritos ainda sussurrantes amedrontados.
Agora o canto em chamas escorre pelas ruas entre muitos cantos,
a primavera se irrompe na beleza do canto do povo
na beleza do canto que nasce na rua e sacode cetros brilhantes.
A primavera se espalha ao redor na rapidez que o frágil corpo
sucumbiu ás chamas na necessidade de amparar sua responsabilidade.
As frutas apodreceram no canto da calçada ou foram pisoteadas
pela primavera que avançava conduzida pela vida que não foi vendida,
que não foi vencida pela mordaça e o medo sufocante de décadas.
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Sem palavras...
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